12 março 2005

da minha monografia

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Mas que tipo de relações são estas que fazem de uma família uma família? Ravazzola, Barilari e Mazieres (1997) definem a instituição familiar como um sistema social composto por actores sociais que levam a cabo funções necessárias para a sua organização, sendo que essa organização possui regras, estabelece fronteiras entre si e o exterior e tem agrupamentos internos, entre os quais também são erigidas fronteiras. São ainda descritos para as famílias códigos, valores, hierarquias, histórias e mitos, assim como diferenças de poder entre os membros. De um ponto de vista mais orgânico, os autores mencionam a família como um grupo social delimitado e identificável, cujas dinâmicas internas vão estar em relação com o contexto social mais amplo ao qual pertencem; trata-se de pessoas que se influenciam mutuamente com intensidade (dependem emocionalmente entre si, o que dá lugar às emoções que podemos procurar verbalizar sob os vocábulos «afinidades», «gostos», «apegos» e «rancores») e respondem a expectativas recíprocas. Em geral, compartilham alguns significados, entre os quais possuem peso especial os mitos históricos e os códigos e lógicas que configuram uma cultura particular. Ao debruçar-se justamente sobre os mitos e rituais de comunicação na família adoptando um posicionamento ecossistémico, Benoit (1997) afirma que cada família participa colectivamente em três categorias de intercâmbios humanos, a saber:
- a percepção estrutural das regras que a unem (e, simultaneamente, do que a distingue das outras famílias), transmitidas sobretudo de modo implícito.
- os valores familiares dominantes, com os sentimentos que os animam, inerentes às alianças e às distâncias e que determinam as escolhas recíprocas (e.g., a honestidade, os ganhos, o saber, o bem-estar, a eficácia); simultaneamente, todos os contravalores correspondentes («aquilo que não se faz na nossa família»).
- os actos individuais, duais e colectivos, realizados no concreto relacional intra e extra-familiar (e.g., a escolha do nome próprio de um recém-nascido, a distribuição dos espaços pessoais, os encontros com a família alargada, as distracções privilegiadas).

referências:

Benoit, J. (1997). Tratamento das perturbações familiares. Lisboa: Climepsi. (Tradução do original em Francês Le traitement des désordres familiaux. Paris: Dunod, 1995)

Ravazzola, M. C., Barilari, S., & Mazieres, G. (1997). A família como grupo e o grupo como família. In D. Zimerman, & L. Osorio (Eds.), Como trabalhamos com grupos (pp. 293-304). Porto Alegre: Artes Médicas.



musiquinha: muse - butterflies and hurricanes

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