15 março 2006

estudo sociológico

anteontem, enquanto esperava por uma consulta médica, ajudei o tempo a passar, como é costume, vendo as revistas do social, actividade que - confesso - me dá algum gozo. foi então que me apercebi de um fenómeno sociológico assaz curioso. após páginas e páginas de festas, piscinas, filhos, casas e divórcios - material recolhido em inúmeras publicações de diversas editoras, pois nem nestas questões mundanas o meu espírito de devoção ao rigor na investigação científica vacila - constatei a existência de um padrão sui generis em termos de acasalamento na alta sociedade nacional e mesmo estrangeira.
de que se trata, então? - imploram as vossas mentes curiosas e sedentas de conhecimento.
pois bem. aquilo que a minha ingénua incursão pelo mundo do cor de rosa veio a descortinar foi a tendência para exemplares femininos dotados de compleição física excepcionalmente valorizada, sofisticação, estilo e capital monetário se emparelharem com homens menos cativantes. significativamente menos cativantes. medíocres, vá. trata-se de exemplares com ar totó vestidos de modo absolutamente insonso - excluindo a qualidade do material utilizado e a sua compostura. pensei um pouco sobre o assunto e ponderei se esta conjugação de pares teria como objectivo implícito contrabalançar o estilo de um com o estilo [ou falta dele] de outro. não seria de esperar que estas gajas emancipadas e que chamam sobre si tanta atenção escolhessem criteriosamente espécimes de igual calibre e aceitação social? jovens revolucionários - mas ricos e chiques -, caridosos - mas ricos e chiques -, bem sucedidos e um pouco histriónicos, talvez. algo incompreendidos pela 'mentalidade do nosso tempo' ou pela 'sociedade' no seu génio avançado - mas que possam ir viver essa depressão na biarritz ou num qualquer spa no interior do país, para que possam dizer que 'portugal é muito bonito' e que 'não o valorizamos'.
bom, disperso-me. porquê, então, por que é que estas gajas não escolhem gajos assim e antes homens banais, algo raquíticos e passíveis de confusão com o seu progenitor? o único motivo que me surgiu na mente perante uma tendência tão acentuada foi o facto de as deixarem brilhar à vontade, não dando azo, a longo prazo [ai, versejei!], ao choque de egos que em última instância resultará no divórcio que fará capa da próxima revista. este mercado pode, de facto, estar em crise.
mas a presente reflexão deixa-me insatisfeita, incompleta, e já estou farta de acordar a meio da noite assombrada pela dúvida e com suores frios, gritando "porquê?! porquê?!".
deixo assim o meu apelo à comunidade científica das ciências humanas e eventualmente das ciências exactas, caso deslindem um algoritmo que explique este fenómeno e dê sentido ao comportamento. estou certa de que com facilidade se sentirão embrenhados por ele e verão o seu interesse.
o meu muito bem-haja.

Sem comentários: