27 abril 2008



[gil do carmo - na maré de ti]



é muito mau eu achar esta música linda?

23 abril 2008

é disto que eu preciso.




mood du jour

A princípio, acreditei que fosse um problema meu. Discos e discos de música deprimente e depressiva, impossível de passar em festas, a menos que se tratasse da XXVII edição do suicídio colectivo anual da igreja adventista do oitavo dia da Carolina do Sul. Depois, muitos serões em casa de amigos volvidos, comecei a desconfiar. Vieram concertos e festivais de música, classificações das revistas da especialidade, recomendações de melómanos. A música boa era, inevitavelmente, melancólica, soturna, cabisbaixa. A alegria, a pop estridente e luminosa, a dança, as histórias felizes, resultavam, de modo fatal, no kitsch; às vezes, no gay; no comercial-ligeiro para pôr multidões a tirar, cito, o pé do chão.

Passássemos ao cinema, à pintura, à literatura, ao teatro, e o cenário não mudaria. Em arte, a tragédia foi, através dos tempos, o grande género, não a comédia. A seriedade vem, amiúde, como bandeira da idade adulta e, afinal, os palhaços sempre serviram para entreter crianças.

Isto já seria misterioso, mas o enigma adensa-se quando saltamos da auto-medicação artística que seguimos de cada vez que escolhemos consumir determinado produto cultural. Se gostamos de filmes pungentes, livros que nos encostem às cordas, óperas trágicas e músicas deprimentes, por que diabo preferimos pessoas alegres?

Se o amigo leitor tem em casa a discografia completa dos Tindersticks, o primeiro do Jens Lekman e bilhetes para o concerto do Nick Cave, deveria apreciar a companhia de suicidas solipsistas defensores da substituição do alho pelo valium nas mais diversas aplicações culinárias. Será assim? Não. A malta gosta é de gente viva, sorridente, colorida, que encha uma sala, domine aniversários e debite piadas com a prolixidade e incapacidade para o sofrimento duma catatua.

Gostaria de ser convidado para uma daquelas festas em que nos deixam à vontade para trazer companhia e sugerir uma pessoa destas. Ai, posso levar alguém? Então, vou com o meu amigo maníaco-depressivo, que acredita que o Cosmos se organizou desta forma com o exclusivo fim de lhe causar aquela calvície precoce e se auto-mutila de cada vez que uma estrela de cinema não lhe responde às cartas. Vai ser um pagode!

O pessoal devia vibrar perante perfil semelhante. E os pais? Por que desejam para os filhos gente agradável e bem-disposta? Por que não aparecer-lhes em casa com uma moça pela mão e dizer: “Papá, Mamã, esta é a Clarinha. Foi espancada pelos pais em criança, mais tarde vendida a um psicopata que a violava todos os dias ímpares e que gosta de fazer sacrifícios animais como forma de expiar a culpa do mundo. É de uma densidade…”

Algo vai mal na relação que a espécie humana estabeleceu com a tristeza e a alegria. As pessoas é que deviam ser sérias e a arte entretenimento. Mas, ultimamente, preferimos um piadista que nos ponha a rir na vida real e distraia, por um momento, das desgraças que comprámos na fnac e pusemos em casa a encher as estantes do ikea. Inventámos a arte séria e densa para poder ser, trivialmente, superficiais.

Ainda não percebi se isso é mau.



-- sinusite crónica

17 abril 2008

bom dia. estou a bloggar em vez de trabalhar. porquê? porque sou uma funcionária extremamente eficiente e já fiz todo o trabalho que havia a fazer por ora.

estava a ver a lista da Forbes de multimilionários que começaram pobres e sabiam que o fundador do Ikea, Ingvar Kamprad, é disléxico, agarrado ao dinheiro e mobila a casa com material do Ikea?


noutras notícias, também descobri um blog giro.


como já devem saber ou não, mudei de casa. divergências creativas irreconciliáveis ou o que lhe queiram chamar fizeram-me sair do sítio onde estava.
como tal, ando à procura de imagens para adornar as paredes da minha nova casa e apeteceu-me partilhar convosco uma das minhas escolhas preferidas. não sou uma entendida em arte, mas gosto de a apreciar. Alfons Mucha é um dos meus artistas favoritos e decerto que o estilo vos é familiar: pertence à corrente da Arte Nova, em que o valor estético das peças é exaltado - por vezes até exagerado, mas é um exagero que me agrada. natural da República Checa, radicou-se e fez carreira em Paris.
ontem andava à procura de imagens para seleccionar e encontrei estas duas, que me apeteceu partilhar convosco.



"cravo", de uma série dedicada às flores



"esmeralda", da série pedras preciosas



Mucha desenhava predominantemente mulheres, como terão percebido. uma das coisas que mais me impressionam é que elas aparecem sempre belas, mas não impossíveis. fixam a atenção, mas não são irreais. outro aspecto que me impressiona imenso é o realismo das expressões faciais e a aparente naturalidade das poses. por exemplo, na imagem directamente acima deste texto a modelo parece mesmo estar a olhar para nós, não a posar para uma fotografia imaginária. é esse sentimento de 'ela podia estar aqui' que faz as mulheres parecer mais belas e dotadas de uma aura que capta a atenção do espectador.
na primeira imagem, não posso deixar de chamar a atenção para a mão esquerda da mulher. ainda que numa posição estranha e não particularmente bonita em si, a mão da senhora está colocada de um modo que se repete na realidade. a subtileza da atenção a este tipo de acontecimentos e o conhecimento de anatomia que sugere são - volto a repetir-me - impressionantes.
o detalhe com que Mucha desenhava as formas dos corpos das mulheres dotava por vezes as suas imagens de erotismo, não pelo que era mostrado ou sugestionado mas sim simples e fortemente porque estas mulheres eram bonitas.