09 novembro 2006

a lista do dia

. um

não sei se viram a reportagem de hoje sobre a taxa de suicídio na psp. não vou dissertar porque estou muito cansada para isso, mas não queria deixar de dar a minha opinião. é mais uma impressão, mas serve.
agentes deslocados da terra de origem para um local novo porque não conseguem arranjar trabalho estável na área de formação. estão sozinhos, sem amigos e longe da família. ganham pouco numa profissão à qual o conflito é inerente.
não quero falar do que será tendencialmente o tipo de personalidade de uma pessoa que escolhe ir para as forças de segurança pública, em que o exercício da autoridade é o pilar definidor da profissão e em que se tem o privilégio de carregar uma arma e poder usá-la sem censura social. os testes psicológicos aplicados são testes psicotécnicos. essencialmente, testes de competência cognitiva. quando é que não conseguir pôr a cruz no quadradinho começou a ser sinal de patologia mental? mais importante, quando é que conseguir fazê-lo passou a significar que está tudo bem? é ridículo que numa profissão em que se lida com as pessoas a avaliação se restrinja a isto. é anedótico, se não fosse tão triste e perigoso.
dos dois entrevistados, um psicólogo que nitidamente tenta branquear as evidências e um coronel ou general ou o que é com postura irredutivelmente defensiva - mesmo quando ainda não lhe perguntaram nada.
seis psicólogos para vinte e dois mil agentes em todo o país. seis psicólogos todos no mesmo sítio. belas deve ser um sítio bonito.

e tantos psicólogos sem trabalho...


. dois

hoje no jornal metro: outra vez josé júdice - agora num dia bom
INOVAÇÕES

Suponha o leitor que alguém, devidamente munido da autoridade do Estado, agarrava num filho seu (seu, do leitor) a frequentar a escola primária (perdão, o ensino básico) e o submetia pela calada a experiências científicas em nome da "inovação". A maioria das pessoas, acreditando que o Estado é "uma pessoa de bem", não acreditará nisso. Os mais avisados, que sabem que de boas intenções está o Ministério da Educação cheio, poderiam lembrar as "experiências científicas" praticadas em nome do progresso e da ciência ainda não há muito tempo na Alemanha e na União Soviética em seres humanos, em particular em crianças. Foi só na semana passada que os sobreviventes das experiências raciais nazis, crianças retiradas às famílias para investigar e desenvolver uma "raça pura", conseguiram ultrapassar o trauma e a vergonha escondidos durante décadas e se mostraram em público.

Mas não é preciso ir tão longe, ou invocar delírios criminosos que julgamos (erradamente) mortos e enterrados. As experiências em crianças que o Estado português promove são, de há décadas para cá, pedagógicas e curriculares. Como somos um país de brandos costumes, as nossas "experiências" não matam. Só moem.

Existe um organismo que, sob a inócua designação de Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, promove desde o ano passado nalgumas escolas uma experiência - eles preferem dizer "inovação" - que se não vai matar ninguém vai certamente provocar inúmeros traumas nos inocentes e causar danos talvez irreparáveis ao já periclitante conhecimento que os jovens têm da língua portuguesa.

Trata-se, como eles mesmos dizem, de "uma abordagem construtivista" levada a cabo em dezenas de escolas primárias para testar junto dos professores e alunos a nova e "inovadora" Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e secundário ou, resumindo, a TLEBS.

Basicamente, porque não há espaço para mais e não somos linguistas, a TLEBS muda a velha terminologia da gramática. Em vez de substantivos, adjectivos, advérbios e verbos, as crianças têm de enfiar no crânio objectos semânticos contundentes como "quantificadores indefinidos", "advérbios dijuntos avaliativos", "sujeito nulo expeletivo" (será uma doença infecto-contagiosa?), "modificador de nome apositivo do tipo frásico" e dezenas e dezenas de outras alucinações linguísticas. A minha favorita, que será certamente alvo de risadinhas nervosas nas salas de aulas como antigamente eram certas passagens dos Lusíadas, a "conjugação coordenativa copulativa".


. três

o horóscopo de hoje [só os engraçados]

Touro
perigo eminente de acontecer qualquer coisa hoje.

Capricórnio
evite os olhos azuis hoje. jogue pelo seguro, olhe só para as pernas.

3 comentários:

bluesboy disse...

Por poderem usar uma arma e isso ser socialmente censurado é que se suicidam.

E mais nada.

inês disse...

quê?

bluesboy disse...

Isso mesmo :P