11 novembro 2006

ranhosa mas inspirada!

" Numa época do desenvolvimento do Homem em que o conhecimento científico deixou de ser privilégio de elites económicas ou intelectuais e sofre cada vez mais um processo de laicização, há noções e terminologias de diversos campos que permeiam a vivência do dia-a-dia e acabam por transformar-se em objectos culturais utilizados pela população em geral quase com tanta naturalidade como conceitos mais antigos e corriqueiros. Esta «assimilação científica» implica em muitos, se não em todos os casos, uma distorção e simplificação dos conceitos em jogo e a Psicologia, como tantas outras disciplinas, não foge à regra; aliás, é fácil compreender o interesse geral que uma ciência que versa sobre o comportamento humano pode gerar, mais não seja porque quer queiramos quer não, estamos sempre expostos a ele.

Com esta laicização do conhecimento científico – que comporta sem dúvida benefícios sociais e culturais significativos – tem-se verificado uma particular adesão do público a determinados conceitos do campo da psicopatologia: facilmente constatamos empiricamente a utilização generalizada de ideias como «a adolescente anoréctica», o «assassino psicopata», o amigo que está «deprimido» ou a amiga que está «stressada». Outro desses conceitos populares é o de hiperactividade, sobretudo a hiperactividade infantil, e é nele que o nosso estudo se vai focar. O nosso interesse por esta temática prende-se com os conhecimentos sobre ela adquiridos ao longo da nossa formação académica, nomeadamente os factores que podem estar em jogo numa perturbação cuja manifestação comportamental – notória por definição – é altamente simbólica.

Frequentemente aplicado a crianças sentidas pelos pais como problemáticas mas que simplesmente são desobedientes ou muito enérgicas, o quadro da hiperactividade leiga traz acopladas noções de intervenção médica igualmente distorcidas, simplificando a problemática e o tratamento; mais ainda, arriscamos afirmar que o que é em última instância simplificado (mesmo que não conscientemente) é a origem da perturbação, quando ela existe. Tal como a Psicologia, a aproximação do campo da Medicina em sentido lato e da Psiquiatria à sociedade em geral proporcionou a entrada dos seus instrumentos de trabalho na linguagem corrente, nomeadamente no que concerne a farmacologia. Quando se fala de hiperactividade, isto significa a referência à medicação com metilfenidato, conhecido pelo público pelos seus nomes comerciais.

A familiarização do cidadão comum com os vários medicamentos existentes e aquilo a que são aplicáveis – mais não seja pela repetida exposição indirecta a eles mediante conversas com amigos, notícias na comunicação social, etc – parece ter um efeito de dessensibilização em que as cautelas guardadas para com aquilo que dantes era um instrumento de precisão a ser aconselhado apenas por técnicos especializados baixam, sendo muitas vezes a utilização de medicamentos percepcionada como uma via fácil e eficaz de resolver a problemática em questão, como se de um passe de magia se tratasse. Cremos que as elevadas expectativas das pessoas que se vêem confrontadas com um problema muito disruptivo para a sua vida têm aqui um papel muitíssimo importante, donde o desejo e a procura de uma solução rápida. A existência de um filho hiperactivo na família encaixa neste perfil, pelo que nos propusémos estudar os efeitos da medicação com metilfenidato na dinâmica familiar de crianças hiperactivas até então não-medicadas. "

1 comentário:

bluesboy disse...

Ritalin perlin pin pin! :D

Está catita sim sra.