decidi pôr mais coisas de que gosto no blog. o intuito inicial deste blog era ser directo e sincero, sem artifícios, e com o passar o tempo foi deixando de o ser.
tem a ver com a minha maneira de ser e eu sei-o. assim, vou usar o blog como um instrumento para me esforçar a ter menos filtro e expor-me um pouco mais. pode correr bem, pode correr mal, pode ser só passageiro.
partilhar as coisas de que gosto não é assim tão mau. não pensar tanto no que isso reflecte de mim para os outros.
por isso, acho que merece uma explicação das coisas que acrescentei.
- o Rititi, porque comecei por odiá-lo porque me irritava porque era moda porque não percebia what all the fuss was about e aprendi a gostar e perceber que tem conteúdo e opiniões que valorizo e não é só espalhafato.
- o Mood Swing (Batukada Sebem), que descobri não sei bem como, porque acho que na minha cabeça falo assim. gosto de achar que tenho piada assim.
- o Aurea Mediocritas porque é o elogio da mediocridade, da ironia, do nonsense e da geekness.
- o Crónicas dos Pequenos Delitos, que descobri enquanto fingia que trabalhava como recepcionista numa empresa. porque nunca pensei interessar-me pelo mundo do Direito, porque o meu género favorito de contos são os do dia-a-dia, por coisas como esta:
o angolano dos olhos de ponta-e-mola
Estado civil?, pergunta o juiz. Estou junto com uma melher, responde com um azedume áspero, reforçando o desprezo na sílaba tónica mal formulada. Os olhos do angolano lembram gumes, facas, navalhas de ponta-e-mola. Ao identificar a ascendência, coisa a que está obrigado, troca o nome da mãe. Que mostre os documentos, é a melher que os tem. Ela que entre. Aproxima-se uma ucraniana, a cara escrevinhada de rugas precoces. Vasculha, nervosa, o saco de mão, à procura do passaporte dele, mas tira por engano o dela. Encolhe-se com medo ainda antes de este lhe rosnar baixinho, não é esse. Aos antecedentes criminais diz que esteve preso, que fugiu, é contumaz. Habilitações literárias? Não sabe o que é isso. Se estudou. Desconversa, envergonhado, tenho poucos estudos. Mas tem o quê, a primeira, a segunda classe? Nem isso. É que nunca viveu com os pais, teve uma infância difícil em Angola, na rua, justifica-se. Chegou a ir à escola, afinal? E ele, soltando a ponta-e-mola do olhar, empunhando agora todas as navalhas do mundo, enfrenta o juiz, não, nunca fui. Faz-se silêncio enquanto é tomada a devida nota e menção. Às tantas, deslargando no ar uma réstea de orgulho, mas sei escrever o meu nome, senhor doutor juiz, as facas caídas aos pés, as lâminas rombas dos olhos espalhadas por fim pelo chão.
espero que gostem. se não gostarem, vou ter de aprender a não me importar com isso.
1 comentário:
É positivo quereres tornar o teu blog num sítio sem filtro. Sempre interpretei a coisa como, 'se é o *teu* blog, deves escrever sobre o que queres, and screw the rest'.
Já agora, se um dia estiveres praí virada, diz o que achas dos livros que tens andado a ler.
Cá fico à espera de conhecer mais coisas interessantes através das tuas partilhas. :]
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