22 abril 2010

estas duas últimas semanas não estão a ser fáceis. não tenho nenhum motivo especial para o justificar. sinto-me especialmente cansada sem que a rotina se tenha alterado e sinto também que não estou a conseguir entrar numa rotina, o que é um contra-senso ao fim de um mês em que senti que tinha perfeitamente entrado na engrenagem.
no trabalho, as coisas não têm estado a correr pelo melhor. estou a substituir uma colega à pressão e sem ter sido avisada com a devida antecedência, que é das situações que mais me irritam. horários que parecem aleatórios, responsabilidades que não cumpro porque as deconhecia, colegas com má cara e eu com a mania da perseguição. sim, também é verdade que não tenho sido uma santinha, mas não acho que fosse o suficiente para fazer diferença.
chateia-me, irrita-me, zanga-me comigo mesma também a persistência da minha dificuldade em enfrentar as pessoas, o optar pela saída mais fácil e ser uma criança em vez de uma adulta. depois admiro-me por ser sempre a última a saber, mas sei que contribuo para isso.
se querem soluções, podem parar de ler aqui. este post não faz sentido e está mal escrito. nem isso consigo fazer e também me chateia.
esta manhã, em conversa, o instrutor de condução disse em brincadeira que a minha vida do dia-a-dia está planeada em papel milimétrico, e teve tragicamente razão. está tudo encaixado em blocos que encaixam ali e só ali e isto é algo que me angustia profundamente. hoje ia no autocarro a olhar insensível pela janela fora a pensar se isto seria frescura minha ou se ter uma vida confortável é um desejo legítimo que a organização social que [voluntaria ou involuntariamente] criámos tornou proscrito por ser incompatível com os 'objectivos' que é suposto cumprirmos e que me parecem ir muito além do razoável e do saudável - no limite, do produtivo, o que é irónico.
todos os dias me recrimino por ser desorganizada, diletante, por vezes preguiçosa e por fazer um bocadinho de auto-sabotagem. mas quando olho para trás sei que páro e adio e faço de conta que amanhã vou ter super-poderes que não tenho hoje porque só quero descansar um bocadinho e fingir que não tenho de me preocupar. no fundo, o que eu faço é a recusa da realidade, porque me recuso a acreditar que tenho de fazer este esforço enorme (as coisas têm a medida da vida de cada um) para conseguir tão poucochinho, que é não mais do que o normal. recuso-me a aceitar que o normal é isto. não quero ter este tipo de vida, não quero ser este tipo de pessoa, não quero ser esse tipo de pessoa para os meus filhos hipotéticos-imaginários. quero ter tempo e, mais que isso, disponibilidade para lhes explicar conceitos que ainda não têm idade para compreender mas que insistem em perguntar. quero deixá-los com vontade de saber, ao invés de desistirem de perguntar porque já sabem que não vão obter resposta porque eu não tenho paciência para pensar quando eles me perguntam alguma coisa - mas tenho quando o meu chefe telefona a perguntar coisas fora de contexto fora do meu horário de trabalho.
este texto está tão foleiro, meu deus. parece que já nem sei escrever em português. mas o meu inglês também não é assim tão bom. é só angústia.

sinto-me desiludida por desistir de pequenas coisas todos os dias, o que me provoca a sensação de nunca ser a pessoa que quero ser e sentir-me [quase] sempre desconfortável na minha própria pele em nome do mais simples, lógico, confortável ou prático. tudo tem de ser prático. tudo tem de ser o mínimo possível e o mínimo tem-se tornado muito cansativo, ultimamente.

em resumo, e por ridículo que isto seja, não gosto de ter de arranjar um horário para pintar as unhas quer me apeteça ou não. e depois claro que não me apetece, porque é obrigada. e depois zango-me porque sei que tiham ficado mais bonitas e que isso até me ia fazer sentir mais bonita e só vou voltar a ter tempo daí a uma semana.

... preciso de tempo para respirar.


entretanto, aconteceu-me uma coisa engraçada. um filme que uma amiga me... disponibilizou... pensei que tinha saído há muito tempo, porque não sabia que existia. descobri então que estreou na passada quinta-feira (oops), o que me deixou a sentir muito avançada e moderna e actualizada, para compensar o real atraso que tenho no que diz respeito a filmes / música / artistas dos dois últimos anos.
lá me dispus a ver a cena porque tem a ver com um livro que ando a ler e que já tinha pensado «por que é ainda ninguém se lembrou de fazer um filme disto?! merece!». o filme é Dorian Gray, baseado no livro de Oscar Wilde "O Retrato de Dorian Gray"
ainda nem vou a meio do livro e infelizmente não estou a ler a obra em Inglês, mas posso dizer que o filme fica muito atrás do livro. a história foi adulterada em aspectos que considero muito importantes ainda que não espalhafatosos. falta o ambiente geral em que se desenrola a história: no livro, Dorian Gray é um jovem muito mais inocente e reticente do que no filme, em que é retratado quase como um campónio na cidade grande, coisa que não acontece em parte nenhuma da obra literária. tenho pena de dizer que o filme tornou a história mais básica para ser mais fácil de contar, o que  desafortunadamente também a tornou mais previsível. há partes do enredo que foram simplesmente obliteradas e outras que foram acrescentadas só porque sim. a personagem de Dorian tem falta de profundidade e a de Lord Wotton é caricatural e fácil - parece que já vimos aquela personagem numa série de outros filmes, apesar de Colin Firth ter alturas em que está bem com o underacting. o pintor Basil Hallward mal existe, o que é estranhíssimo tendo em conta dois factores: 1) ele contribui sem saber e ainda que de maneira discreta para a tensão que acompanha toda a história ; 2) desenrolam-se acontecimentos mais à frente que justificavam a sua presença mais... insistente.
as cenas de sexo são giras e até imaginativas, mas chega a uma altura em que enjoam. não acrescentam nada à história, já percebemos.
o quadro, peça central da história, foi trazido à vida (isto existe?) de uma maneira muito triste, como se de algo sobrenatural se tratasse, quando, a meu ver, no livro não é nada disso que se pretende. a mudança do quadro - e não vou acrescentar mais para não estragar a quem quiser ler o livro - é assustadora porque é real, simplesmente enigmática.
há um verdadeiro twist na história - ainda não cheguei a essa parte no livro, mas espero que seja verdade - , com a bonita Rebecca Hall, de Vicky Cristina Barcelona, a fazer um impressionante sotaque britânico.

e pronto, é isto. 
voltamos a falar quando eu tiver alguma coisa para dizer.

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