31 janeiro 2010

descobri um blog novo

se deus morreu eu não sei mas nietzsche morreu de certeza 


Ia para a escola, picada pelos meus pais para ser a melhor. Tinha de ser a melhor, a mais atenta, a bem comportada, a espertalhona da turma para depois ouvir em casa
que nota tiveste no teste de português?
mal se ouvia a resposta e já estava lançada num tom desconfortável
“e a Inês? E quem teve a melhor?”
Enchia a cabeça e o ego rarefeito com aquilo que era música para os meus ouvidos – a minha mãe a palrar em almoços de família e convívios toscos com as vizinhas
ai ela é muito aplicadinha, aprendeu o português num instante, aos quatro anos já escrevia o nome e sabia contar até quinze e já queria livros e olha que parecia não estar só interessada nos bonecos
Tinha um problema de difícil resolução – não era bem comportada. Falava muito, nunca estava quieta, o recreio era um território minado de putos cruéis do qual eu tinha de me defender jogando ao ataque
porque era diferente, fazia as contas de outra maneira, tinha a mania de desenhar coisas esquisitas e sempre preferi a minha caixa de 24 lápis de cera com um apara-lápis embutido aos dez lápis de pau viarco que toda a gente tinha, era gorda e não sabia brincar àquelas coisas da macaca e o jogo da mata, que só conhecia barbies.
Fui educada para ser a melhor, era uma questão de sobrevivência – ou tirava boas notas e começava a preparar um futuro brilhante desde o kindergarden ou me assumia como um caso perdido. Sempre me falaram na universidade. O meu pai queria que eu fosse para direito para ser, de preferência, juíza. Na altura pensei que os canudinhos brancos me iriam cair tão mal que o meu pai só podia estar a gozar comigo. Mas fingi durante algum tempo que lá iria, para a tão digna e cheia de merdas Universidade de Coimbra ouvir os caquécticos de Direito e encher a capa preta de insígnias ilustres e efe-êrre-às por todos os lados.
O plano esfodaçou-se todo quando aos dezasseis anos comecei a ouvir Pink Floyd. E Sérgio Godinho e Nirvana e cenas Rock e Punk e outras coisas que contribuíram para o agravamento do meu mau comportamento (se não se deram conta - acabei de escrever em rima). Lá se foram as manias de ser exímia, aprender a tocar um instrumento, inscrever-me em aulas de karaté, concorrer com as miúdas ricas no ginásio, dominar uma outra língua na perfeição, ter uma relação estável com vista ao casamento por forma a juntar terrenos e imóveis e conceder ao meu pai um genro que lhe agradasse.
A minha mãe deixou de ir às reuniões no sétimo ano, diz que não aguentava mais vergonhas, que era sempre a mesma conversa e não tinha respostas para as Directoras de Turma empenhadas em criar turmas assépticas e ordeiras.
No 9º apanhei uma professora de História que decretou três dias de reflexão na escola porque eu tinha tentado matar uma beta que se vestia em tons de rosa bebé
(foi assim: eu era uma adolescente parva (coisa mais normal), aproveitava os furos para desenvolver brincadeiras parvas com outros adolescentes idiotas como eu (coisa mais normal), tentamos interagir de forma parva com uma beta (coisa mais normal) e a beta foi fazer queixinhas à prof (coisa mais normal) e daí se geraram reuniões com professoras a entrar na menopausa e a tomar drunfos e chás de camomila nos intervalos (coisa mais normal) e chegaram à conclusão que pretendíamos assassinar uma beta (coisa mais bizarra)
No final do 12º vieram os exames nacionais, uns quinze dias sem aulas – quinze dias de reflexão e estudo solitário para alguns; quinze dias de garrafões de vinho, martini e poesia para as três virgens suicidas. Na véspera do exame de filosofia tinha mamado uma garrafa de martini blanco (andava farta de vomitar o rosso), cheguei a casa e ferrei no sono só acordando no dia seguinte. Tive 19 e isso fez-me concluir que poderia com facilidade ser artista e uma pensadora brilhante se bebesse muito e fosse melancólica. Portanto, a eficácia da minha vida só dependia do meu fígado e do desenvolvimento da capacidade de alienação, interrogando permanentemente a existência – desde a concepção de deus ao preço do vinho (duas coisas que até comungam várias dialécticas).
Semanas depois tive de ir apresentar a minha média ao Ministério da Educação e fui obrigada a escolher de um a seis o que eu queria fazer nos próximos quatro anos. Chegada ao edifício, abri o livro dos códigos das instituições à sorte e dei de caras com um curso que era tudo e não era nada e foi mesmo isso.
Fui educada para ser a melhor em tudo (apostaram as cartas todas em mim e ainda não entendi porquê). Faço parte daquela geração confusa que foi para a Universidade a pensar
(mas já na fronteira entre o pode ser que sim quase de certeza mas se calhar pode ser que não),
que com um canudo na mão a vidinha já ficaria muito alinhavada. Os anos na Universidade trataram de rasgar toda essa esperança e andávamos ali sem perceber nem um bocadinho o que viria depois do adeus, facto que nos levava a empenhar tostões e afinco em drogas mais ou menos leves, sempre podia ser que a angústia passasse. O afastamento de casa e das conversas paternas era essencial para manter alguma saúde mental mas ainda assim a pressão crescia como uma sombra ao fim da tarde.
E a pressão continua aqui, irrequieta e à espera de nos engolir a todos mal se dê um passo em falso. E cresce bem e alimenta-se sozinha com a taxa de desemprego, orçamento de estado e o défice das contas públicas, corrupção, escutas telefónicas, decretos de lei.
A minha geração sabe o que isto é, conhece estes exageros, viveu histórias muito iguais, tem vários modelos gps pelas montras mas não lhe elucidam direcções, já não tem colos para chorar à noite, as cidades são demasiado grandes para ter amigos por perto e existe a falácia facebook para fazer de conta que não, não gosta de olhar para o talão do multibanco quando vai levantar dinheiro, não tem intimidade com certezas, a televisão mostra a qualquer momento que os edifícios esmagam trinta mil cabeças num instante, toda a gente conhece alguém que se deu mal com tudo isto e trabalha com pouca dignidade num call-center e mesmo assim morre de medo da miséria anunciada num e-mail com más notícias.
Estamos todos fodidos e cada um para seu lado a tentar respirar da melhor maneira.
Sai uma máscara de oxigénio para os estropiados da mesa três, por favor.

Lady oh my Dog! , via Juvenal, o Anormal.

uma música por dia não sabe o bem que lhe fazia




-- grace, jeff buckley [do álbum com o mesmo nome, que é todo igualmente bom. mas esta é a melhor canção. não há amor como o primeiro.]




ignorem as legendas em italiano, por favor. a versão original do teledisco não estava disponível por parte da sony.



antes que o computador fique sem bateria

nas últimas semanas vi-me obrigada, por razões profissionais, a fazer autênticos exercícios de arqueologia em lojas de brinquedos. já nem vou falar na dificuldade que é encontrar brinquedos 'normais', coisas simples sem virem agregadas a 50 acessórios, numa sobrecarga sensorial que desconfio torna epiléptica ou psicótica/autista qualquer criancinha que não tenha ido ao Iraque e tornado para contar a história.

não vou também alongar-me sobre o facto de, em todos os 28 (perigosamente perto dos 29) anos da minha existência, nunca ter tido um contacto tão próximo e devotado tanta atenção a Nenucos e imitações mais ou menos conseguidas.

vou só debruçar-me sobre a componente absolutamente bipolar [classificação aqui muito mal aplicada e passível de me levar à proscrição da utilização de uma DSM - coisa que nunca usei - para o resto da vida, pela mui excelsa e já com pendor para-militar Ordem dos Psicólogos], a componente absolutamente bipolar, dizia eu, dos brinquedos que povoam 90% das prateleiras dirigidas a meninas nas grandes superfícies comerciais dedicadas ao mister do juguete. já de si, só há duas alternativas: ou póneizinhos fofinhos em cor-de-rosa a roçar o choque, miniaturinhas amorozinhas de animais/pessoas/coisas entre as duas categorias anteriores ou que não pertencem sequer ao filo alienígena, entidades absolutamente abebezadas, retardadas e aparvalhantes, ou então bonecas hipersexualizadas cujo look básico, sobre-maquilhado, é o de quenga rameira and-happy-about-it. se fossem de carne e osso e adultas, diria que eram mulheres desesperadas por lhes chamarem naco de carne e por lhes confirmarem que são mulheres, tanto é o eye-liner e a sombra de olhos até às sobrancelhas e a meia de rede com buracos onde cabe um punho e o salto stilleto-só-para-o-caso.

posto isto, como é que queremos ter pessoas normais? como é que é suposto as nossas criancinhas não andarem agarradas ao tecto de olhos esbugalhados e caninos de fora? ou estão aterrorizadas ou cheias de raiva e e em ambos os casos dou-lhes razão.

é que já cantava a Maria Rita - não sou freira nem sou puta!

26 janeiro 2010

o amor pode ser estranho

o filme que eu vi ontem:




19 janeiro 2010

e para acabar a noite, a minha música favorita do mundo, na melhor interpretação de sempre




é bom que haja pessoas talentosas assim, mas e o resto de nós humanos?

18 janeiro 2010

vêm aos 2

profissões que eu acho que podia ter:

- fazer locução de animações
- make-up artist (i'm really good!)
- decoradora de interiores
- personal stylist

olá, meninos

bom 2010.

ainda não é hoje que vou pôr um post sobre o que se tem passado na minha mui simples vidinha, mas deixo-vos com alguma informação.

ultimamente, têm chamado a minha atenção duas séries novas. uma é "Dexter", a história de um técnico forense que trabalha para a polícia e, por acaso, é também um psicopata assassino em série nas horas vagas. a outra é "True Blood", uma série sobre a coabitação de vampiros com pessoas normais numa terrinha de um estado sulista nos USA. é interessante ao contrário do que parece.

a razão de estar a falar sobre isto é que ambas têm genéricos excelentes, que passo a mostrar.





acho que posso dizer que gosto de tudo neste genérico. a música, que é tétrica mas também casual, a fotografia e a visão deliciosamente distorcida de uma rotina perfeitamente banal e comum a todos nós. como se constantemente nos quisessem levar a incriminar Dexter para depois nos fazerem perceber que isso é apenas fruto da nossa vontade (ainda que tenhamos razão - ele é frio e metódico) e nos assustarmos com o facto de nos identificarmos com ele, ou pior, não o conseguirmos destacar numa multidão.






no genérico de true blood nem sei bem apontar o que gosto. acho que é da estética em geral.  acho que está muito bem retratada a cultura sulista, com o seu folclore, preconceitos, tradições e lugares-comuns, intercalados com um lado mais crú e naturalista que me faz sentir próxima do ambiente físico que deve ser estar lá. sempre gostei de retratos da vida do dia a dia, com as suas banalidades e podres, por isso acho que deve ter sido por aí que me agarraram. e a música. a música também é muita boa.


e é isto.